Seja por meio da produção de leite carbono neutro ou produtos embalados com materiais recicláveis, o setor lácteo vem se reinventando para atender às novas demandas. 

 

Sustentabilidade, bem-estar animal (BEA) e segurança alimentar. Atualmente, esse tripé é extremamente destrinchado, discutido e falado no mercado lácteo e os eventos mundiais mais recentes se debruçam na seguinte questão: nunca foi tão urgente trabalhar para atender às crescentes demandas e expectativas de clientes e consumidores em relação a essas vertentes. E com o setor de laticínios não é diferente, pois ele tem capacidade para tirar proveito dessas necessidades e explorar todo o seu potencial. 

 

Inclusive, aspectos ligados a governança das empresas, ao cuidado com as pessoas envolvidas na operação, sustentabilidade econômica, BEA, entre outros, são cada vez mais relevantes para as organizações nos diferentes mercados – trata-se do conceito chamado de ESG – Environmental, Social and Corporate Governance (Ambiente, Social e Governança).

 

As indústrias alimentícias passaram a olhar com mais afinco para a geração Z, que compreende o grupo de pessoas nascidas a partir de 1995. Eles cresceram junto com a popularização da internet e interagem com o mundo integrando todas as formas de tecnologia disponíveis.

 

Para atender as necessidades desse grupo de consumidores, por exemplo, o setor lácteo deve refletir sobre a diversidade e inclusão já que este público realiza as compras no supermercado com base em suas visões de saúde e bem-estar. Eles buscam alimentos que forneçam energia, sensação de calma, imunidade, suporte intestinal, anti-inflamatórios e focados em longevidade. Além disso, apoiam marcas que consideram tratar com respeito os animais, o planeta e os trabalhadores  e têm expectativas elevadas de que os laticínios e outras empresas liderem o fornecimento de soluções para os desafios sociais. 

 

Neste ano, o evento Dairy Sustainability Alliance que ocorreu nos Estados Unidos e reuniu 270 representantes da cadeia de valor de laticínios, destacou o poder da sustentabilidade para a produção de lácteos apesar dos desafios e custos. Os especialistas insistiram que os esforços nesse âmbito continuam sendo promissores e essa demanda - com certeza - será "bem maior amanhã do que é hoje”.

 

Leite carbono neutro


Em consonância com essas tendências apresentadas acima, passaram a surgir no mercado marcas direcionadas a produzir alimentos neutros em carbono, inclusive, produtos lácteos. A Neutral Foods, localizada nos Estados Unidos, é uma delas. Ela é primeira empresa alimentícia carbono neutro do país e estreou em 2021 com produtos lácteos orgânicos e no final do mês de agosto deste ano, anunciou uma primeira rodada de financiamento de US$ 12 milhões (série A) junto a investidores como - nada mais, nada menos - que Bill Gates e outras celebridades americanas como LeBron James, John Legend, entre outros.  

 

Segundo a empresa, os consumidores estão “famintos” por opções sustentáveis e favoráveis ao clima e o investimento auxiliará mais ainda na redução de emissões dos gases do efeito estufa (GEE) na produção de alimentos e na cadeia de suprimentos, além de contribuir com a construção de um grande negócio de varejo. A Neutral trabalha diretamente com produtores de leite para reduzir a pegada de carbono de seus produtos, implementando várias estratégias para reduzir as emissões de carbono. 

 

 

Na mesma linha, no ano passado, foi lançado no Brasil o primeiro leite carbono neutro por meio da marca NoCarbon. As emissões geradas na produção (seja através dos próprios animais, no transporte dos produtos, na produção da embalagem ou até da fazenda em si) são contabilizadas e compensadas com o plantio de árvores nativas. 

 

Atualmente, com a produção atual, são plantadas mais de 9.000 árvores todos os anos e os produtos disponibilizados aos consumidores assumem grande variedade: leite integral, leite desnatado, leite sem lactose, coalhada, creme de leite, queijo minas frescal, queijo minas padrão, ricota e kefir.

  

 

É notável que mundialmente são inúmeros os projetos já concretizados com esse intuito. Um outro exemplo é a colaboração de três anos realizada entre a FrieslandCampina e a Danone que levou a uma redução de mais de 17% nas emissões de GEE. De acordo com a Danone, a pecuária leiteira sustentável é uma prioridade fundamental na jornada da empresa e a experiência adquirida até então mostrou que é possível acelerar a adoção de práticas de agricultura regenerativa a fim de reduzir o impacto climático da pecuária leiteira

 

Material reciclado nas embalagens


Um outro comprometimento com o meio ambiente que vem ganhando força é o uso de embalagens recicláveis. A Emmi, maior processadora de leite da Suíça, vem apostando na economia circular e na proteção do clima com o objetivo declarado de tornar todas as suas embalagens 100% recicláveis, iniciando com a meta de ter 30% de recicláveis na composição até 2027. 

 

 

Já a Müller Milk & Ingredients que faz parte do Grupo Müller UK & Ireland (propriedade da família alemã Müller) e a maior fornecedora e distribuidora de leite na Grã-Bretanha, anunciou este ano que mudou os seus potes de cremes para materiais 100% recicláveis, evitando o uso de 500 toneladas de plástico virgem.  Até 2023, a companhia pretende converter todas as suas embalagens em materiais recicláveis, principalmente com rPET (garrafa pet reciclada). 

 


Segundo a Müller, os compradores vêm buscando produtos lácteos que preservem sua qualidade, segurança e vida útil ao mesmo tempo que reduzem o impacto ambiental. Também, divulgou que está continuamente à procura de soluções inovadoras para usar menos plásticos entre as suas escolhas. 

Assim, é importante que as fazendas de leite estejam por dentro desse movimento para se planejarem a fim de atender possíveis demandas futuras que exigirão "novas formas de agir e enxergar as coisas" de todos os envolvidos na cadeia produtiva do leite. E - como é de se esperar - o primeiro passo para isso é uma gestão bem feita na propriedade para que assim, o produtor tenha a clareza e a transparência necessária para alçar novos e elevados voos. 

 

 

Sobre a Ideagri

Ideagri é parceira do produtor na gestão e controle da fazenda, incluindo desde informações zootécnicas até controle de custos e financeiro. A Ideagri é a empresa líder no Brasil em sistema de suporte à tomada de decisão para pecuária de leite.

 

 

Autora do artigo:

Raquel Maria Cury Rodrigues, zootecnista pela Unesp de Botucatu e especialista em Gestão da Produção pela Ufscar. 

 

 

O que lemos para escrever esse artigo:

  • Emmi, Borealis and Greiner Packaging partner up to create the first chemically recycled polypropylene ready to drink iced coffee cups, Borealis Group, 2021. Disponível em: <https://www.borealisgroup.com/news/emmi-borealis-and-greiner-packaging-partner-up-to-create-first-chemically-recycled-polypropylene-ready-to-drink-iced-coffee-cups>. Acesso em 03/09/2022. 

 

  • Muller switches to 100 recyclable cream pots cutting 500 tons of virgin plastic, Dairy Reporter, 2022. Disponível em: <https://www.dairyreporter.com/Article/2022/08/31/mueller-switches-to-100-recyclable-cream-pots-cutting-500-tons-of-virgin-plastic>. Acesso em 03/09/2022. 

 

  • Neutral Foods moves into next phase of growth with $12 milion raised in first Series A funding close, PRWEB, 2022. Disponível em: <https://www.prweb.com/releases/2022/08/prweb18867767.htm>.  Acesso em 03/09/2022. 

 

  • Wellness, sustainability and food security: the emerging leadership opportunities for US dairy, Dairy Reporter, 2022. Disponível em: <https://www.dairyreporter.com/Article/2022/05/31/wellness-sustainability-and-food-security-the-emerging-leadership-opportunities-for-us-dairy?utm_source=copyright&utm_medium=OnSite&utm_campaign=copyright>. Acesso em 03/09/2022.