De acordo com uma nova pesquisa conduzida pela Universidade de Copenhague, na Dinamarca, ainda há várias melhorias que podem ser trabalhadas na área de bem-estar animal quando se fala em bovinos de leite. O estudo, além de apresentar possíveis soluções, também trouxe alguns comparativos com a criação de animais de corte. As avaliações dos 70 especialistas em bem-estar espalhados pelo mundo abordaram os principais aspectos do tema relacionados à:
- • saúde e funcionamento básicos dos animais;
- • sentimentos e;
- • a capacidade de se envolverem em comportamentos naturais.
Uma das primeiras observações é que a produção leiteira, por envolver um alto grau de intervenção humana (já que as coletas de leite, que obviamente fazem parte da atividade, ocorrem de uma a três vezes por dia) tende a sentir mais os impactos do estresse animal.
Esse contato aumentado com os humanos por si só acaba sendo um fator de risco para elevar o estresse das vacas. Ao mesmo tempo, esse item abre um extenso “leque” de possibilidades que podem ser exploradas para mitigar possíveis desconfortos e otimizar a relação humano-animal.
O comportamento e perfil dos colaboradores (falaremos mais sobre isso adiante), a condução dos animais até o momento da ordenha, o próprio momento da ordenha e após ele, são recheados de oportunidades para deixar as vacas mais tranquilas e seguras.
Bezerras
Segundo o principal autor do artigo, Roi Mandel, pós-doutorando em Ciências Veterinárias e Animais da Universidade de Copenhague, um outro risco do bem-estar no setor leiteiro é referente às bezerras. Foi avaliado que o risco de bem-estar delas é maior do que o dos bezerros provenientes de rebanhos de corte, independentemente da meta de produção. A gestão da produção foi citada no estudo com um elevado grau de intervenção principalmente nas primeiras semanas de vida delas após a separação da mãe e ao longo dos períodos de lactação, independentemente se a ordenha é parcial ou totalmente automatizada.
Seleção genética e desafios térmicos
A seleção genética de longo prazo para alta produção de leite em vacas leiteiras foi levantada com um fator que causa menor bem-estar já que pode levar a problemas de saúde como claudicação, mastite e distúrbios reprodutivos e metabólicos. Assim, as atenções também precisam estar voltadas para questões relacionadas ao melhoramento genético.
É sabido inclusive que a adoção de raças de alto rendimento e seus respectivos desafios térmicos típicos de climas extremos exigem compromissos adicionais para a manutenção do bem-estar. Esse conhecimento é fundamental para a elaboração de projetos e instalações que evitem que questões relacionadas a temperatura e umidade inadequadas sejam um empecilho no dia a dia do produtor. Issotambémimpede que as vacas reduzam a sua produção de leite devido ao estresse térmico.
Treinamento dos colaboradores e gestão
A boa notícia é que, de acordo com o estudo, elevar o bem-estar geral, por exemplo, por meio de um melhor treinamento dos colaboradores, é algo intrínseco e - em alguns locais do mundo - as capacitações constantes hoje já são obrigatórias. Também foi citado como solução para a redução de estresse a possibilidade do rebanho ter mais acesso a pastagens em condições climáticas adequadas, o que corrobora com a ideia de oferecer oportunidades para que ele expresse seu comportamento natural.
Uma das conclusões foi que aumentar a conscientização sobre o impacto da produção de leite no estado de bem-estar dos animais e na indústria de laticínios encorajaria um consumo de alimentos mais sustentáveis na outra ponta da cadeia já que há um movimento crescente de preocupação pública com esses temas.
Rotular a origem do rebanho leiteiro nas embalagens dos alimentos poderia inclusive ser um dos passos neste processo. E o mais importante de tudo: a fazenda deve ter um retrato fidedigno dos seus manejos e possíveis pontos de melhoria. A gestão passa a ser uma forte auxiliar e deve estar alinhada com as áreas onde os problemas de bem-estar são mais aparentes.
Vale a pena ressaltar que o conceito de bem-estar é muitas vezes associado como ausência de doenças ou lesões, porém, além dessas questões, há uma preocupação concentrada na dor ou angústia que os animais podem experimentar e a possibilidade deles sofrerem quando mantidos em condições aparentemente “não naturais”, ou seja, pouco instintivas e nas quais não conseguem manifestar seu real comportamento.
Em outras pesquisas foi também notado que quando as vacas reduzem o seu status social dentro do grupo, ao mesmo tempo, observa-se aumento do período de serviço, elevação na contagem de células somáticas (CCS) e incidência de laminite, como por exemplo. Além disso, a produção diária de leite diminui.
E na sua fazenda? Você já se perguntou como a gestão vem contribuindo para que a organização da propriedade, dos animais e da mão de obra podem realizar uma melhor interface com o conforto do plantel?
Fontes consultadas:
Mandel R, Bracke MBM, Nicol CJ, Webster JA, Gygax L. Dairy vs beef production - expert views on welfare of cattle in common food production systems. Animal. 2022 Sep;16(9):100622. doi: 10.1016/j.animal.2022.100622. Epub 2022 Sep 12. PMID: 36109300.
Sobre o Ideagri
O Ideagri é o parceiro do produtor na gestão e controle da fazenda, incluindo desde informações zootécnicas até controle de custos e financeiro. O Ideagri é a empresa líder no Brasil em sistema de suporte à tomada de decisão para pecuária de leite e faz parte do escopo de soluções da Rúmina.
Autora do artigo:
Raquel Maria Cury Rodrigues, zootecnista pela Unesp de Botucatu, especialista em Gestão da Produção pela Ufscar e redatora da Rúmina.