Como participantes de um setor que por princípio não para nunca, o agronegócio, gostaríamos de contribuir com o debate sobre se devemos ficar todos em casa ou permitir o funcionamento da economia, uma discussão central nas políticas de combate ao coronavírus no Brasil. Mas antes, alguns dados básicos sobre a Covid-19.

O coronavírus se espalha fácil e não temos imunidade a ele. Muita gente será contaminada. A questão é: qual a velocidade de contágio que a estrutura do sistema de saúde brasileiro pode administrar sem entrar em colapso? Caso contrário, os médicos, enfermeiros e técnicos de saúde (verdadeiros heróis nesse trágico momento) não conseguirão dar conta da demanda. Quer dizer: muitas pessoas chegarão aos centros de saúde e hospitais e não poderão ser atendidos.

Enviadas de volta para casa, muitas pessoas poderão morrer sem atendimento adequado. E muitas outras pessoas, acometidas de outros males, podem também morrer devido à falta de vaga nos hospitais. Nesse quadro, o número de mortes sai do controle, como aconteceu na Itália e está acontecendo em outros países como EUA e Espanha.

Precisamos, portanto, frear a taxa de contágio para desacelerar a chegada de pessoas contagiadas aos centros de atendimento e assim salvar mais vidas. E o “freio” no contágio se consegue com o isolamento. Mas o isolamento precisa ser total? Quais setores da economia podem e quais não podem parar?

O setor de saúde não pode parar, evidentemente. O agronegócio também, porque a alimentação é outra necessidade básica da população. Não adianta ficar em casa sem comida para comer. Por isso, as cadeias da saúde (hospitais, centros de saúde, farmácias etcetc.), da produção alimentar (fazendas, indústria de alimentos) e transportes (especialmente caminhões) não param nunca. Sozinhos, esses setores respondem por quase 40% do PIB brasileiro.

Outros setores teriam redução parcial de atividades. E outros ainda, sem ligação com a saúde ou alimentação, e são vários nessa situação, poderiam parar totalmente. Dessa forma, a paralização seletiva provocaria um impacto menor na economia, mas contribuiria com o “achatamento” da curva de infecção. Programas de suporte poderiam ser desenhados para ajudar os setores afetados, como aliás já vem sendo feito tanto pelo governo como pela iniciativa privada.

Saúde, agronegócio e transportes devem continuar funcionando normalmente também porque, psicologicamente, eles são um fator de conforto e segurança para todos, e promovem a sustentação e a esperança de que conseguiremos enfrentar e vencer essa situação desafiadora.

O que o futuro nos reserva após o Covid 19 é impossível de prever. A crise é extensa e muitos momentos difíceis estão por vir. Talvez, a única certeza que podemos ter agora é que nada será como antes. Só nos resta aprender com os desafios, com as novas formas de trabalho e nos preparar para atender consumidores com um novo comportamento após a pandemia.