Vivemos numa era de transformações contínuas e também de incertezas, que exigem rápida e constante adaptação. Pessoas, empresas e equipamentos trocam informações e são influenciados pelos demais a todo tempo. Tecnologias como Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT), Realidade Aumentada, impressão 3D, fontes de energia alternativas, entre tantas outras, modificaram o modo como nos comunicamos e nosso modo de agir, pensar e observar.

Na Economia 4.0, o digital e o real se misturam de forma indissociável e promovem alterações profundas nos modelos de negócio. Inteligência e precisão são as palavras-chave dessa nova economia para qualquer setor.

Nesse cenário, para a pecuária leiteira não é diferente. Somos parte de uma atividade em pleno movimento. Globalmente, acompanhamos a consolidação de rebanhos cada vez maiores e cada vez mais produtivos, contrastando com uma concentração gradual da atividade em um menor número de fazendas para empregar e alimentar uma população em crescimento.

Temos acompanhado a saída constante de produtores de leite da atividade leiteira, evidenciada nos dados do IBGE de 2017 que indicam uma redução de 13% no número de produtores em comparação a 2006. Nos EUA, essa redução atualmente chega a 6,8% ao ano. Não é segredo que aqueles que permanecem são os que mais rapidamente se adaptam às mudanças. Aqueles que, em vista dos desafios, conseguem manter seus rebanhos produtivos e economicamente eficientes. As diversas tecnologias disponíveis hoje para a produção leiteira são grandes aliadas no atingimento de metas produtivas e financeiras, e na permanência na atividade.

A pecuária de precisão, por meio de ferramentas digitais, permite a obtenção de informações fundamentais e precisas para o acompanhamento de todo o ciclo produtivo. Isso auxilia o produtor diante de desafios como aumento do rebanho, maior produção e assertividade na gestão, bem como necessidade de cuidado individualizado para cada animal, respeitando seu bem-estar. Softwares, sistemas e aplicativos que permitem coletar, armazenar e analisar dados – como taxa de prenhez, cio, produção de leite e incidência de doenças – estão amplamente disponíveis e serão cada vez mais parte do dia a dia das fazendas leiteiras. Não só para que o produtor seja mais eficiente e se mantenha na atividade, mas também para que haja foco em bem-estar animal, produtividade e sustentabilidade.

Temos no país um grande potencial de crescimento para esse setor. Estima-se que cerca de 4 milhões de pessoas trabalhem diretamente na pecuária leiteira. Mesmo sendo tão heterogêneo e pulverizado, com produtores de alta produtividade e tecnicidade e outros cuidando de suas propriedades como se fazia há 50 anos, o setor mais que quadriplicou sua produção em pouco mais de 40 anos. Ultrapassamos o volume de 35 bilhões de litros de leite, mas ainda com baixa produtividade média nacional (aproximadamente 1.600 kg de leite/vaca/ano).

Análises publicadas em março de 2020 exemplificam o potencial para melhores resultados nas fazendas brasileiras. O Top 100 2020, publicado pelo MilkPoint, indica produção média por vaca de 28,5 kg/dia nas 100 maiores fazendas do País. E ainda o 5º Índice Ideagri do Leite Brasileiro, iniciativa que analisa dados de rebanhos que utilizam software de gestão, evidencia oportunidades de melhoria. Como exemplo, a taxa de prenhez, indicador-chave para desempenho produtivo e reprodutivo, foi de 16% na média geral e de 23% nos dez rebanhos de melhor resultado zootécnico. Já a taxa de mortalidade de vacas foi de 6,2% na média geral e de 4,6% nas fazendas top 10. Certamente os resultados superiores obtidos nesses rebanhos top 10 são consequência de assistência técnica de qualidade, gestão eficiente e aplicação coerente de tecnologias.

Outra grande oportunidade está no aumento do consumo. Hoje, no Brasil, o consumo per capita (170 kg de leite/habitante/ano) é inferior ao recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), que é de 200 a 220 kg/habitante/ano. Um maior consumo passa também pela consideração dos desejos e demandas dos consumidores a respeito de como o leite é produzido, o que envolve o bem-estar animal e a sustentabilidade.

Em meados de 2019, o Ministério da Agricultura divulgou uma lista com 24 empresas brasileiras habilitadas a exportar produtos lácteos para o mercado chinês. De acordo com a Viva Lácteos – Associação Brasileira de Laticínios –, a estimativa é que US$ 4,5 milhões sejam gerados com a venda de produtos lácteos. Tudo isso destaca a necessidade de inovação na cadeia produtiva do leite, para que possamos nos firmar como um país capaz de atender à demanda mundial por alimentos. Façamos com que nosso leite seja também 4.0.

 

  

Por Bruna Silper

Médica Veterinária

Mestre em Zootecnia

PhD em Animal Science

Especialista em Pecuária de Precisão da Zoetis.