A Fazenda Rio Doce não é diferente de nenhuma outra. Lá, a mastite também era uma pedra no sapato de Ricardo, Roberto e Rubens Pinheiro, irmãos e donos da propriedade. O diferencial é que eles quiseram acabar com o problema e, com a ajuda de Eduardo, filho de Roberto, foram em busca de soluções. Confira trechos da reportagem da Revista Leite Integral e saiba como acessar o conteúdo integral da matéria, que traz a história de uma fazenda que tem vasta experiência no controle desta doença que causa inúmeros prejuízos à produção leiteira. A gestão de índices da Fazenda Rio Doce é feita através do Sistema de Gestão IDEAGRI.


Uma breve contextualização...

A Fazenda Rio Doce fica em Itobi (SP) e possui 387 hectares (ha). Atualmente, comercializa 5.200 litros de leite/dia. São 170 vacas em lactação, com média de 33 litros de leite/vaca/dia em três ordenhas diárias.

A propriedade pertence à família desde 1960, e já produziu café, hortifrutigranjeiros e cana, mas hoje o leite é a principal atividade, responsável por mais de 90% da receita. As construções antigas ainda compõem o cenário com casarões, currais e tulhas de café.

Foi aproveitando estas instalações que os irmãos Pinheiro iniciaram a atividade de produção de leite. No início, anos 70 e 80, a ordenha era feita à mão em alguns retiros espalhados pela fazenda. Em 1990, foi construída uma sala com fosso e instalada a ordenhadeira mecânica com seis conjuntos. À medida que o rebanho crescia, as instalações foram sendo ampliadas e adaptadas, porém sem que houvesse planejamento, o que limitava a produtividade e faziam da mastite um problema contínuo.

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Da esquerda para a direita Eduardo, Rubens e Roberto PinheiroDedicado, Eduardo conhece, detalhadamente, o status sanitário de cada um dos animais

Programa para o controle de mastite...

Eduardo, que é médico veterinário, montou, na própria fazenda, uma estrutura para fazer cultura microbiológica. Utilizando os dados de CCS, passou a testar todos os casos novos de mastite subclínica (CCS>200 mil). Neste acompanhamento, foi possível verificar que a maior parte dos casos estava relacionada com o Streptococcus ambientais e que o número de novas infecções aumentava no verão, com a alta da umidade e do calor.

Outro parâmetro que passou a ser monitorado foi o escore de esfíncter do teto, para avaliar a ocorrência de sobreordenha. Foi identificado que 40% das vacas possuíam um escore de teto de 3 ou maior, ou seja, acima da meta de 20%. A ordenha, na época, não contava com extratores automáticos e os funcionários insistiam em colocar peso sobre os conjuntos.

Para contornar os desafios enfrentados, foi adotada uma série de mudanças: realização de dois pré-dippings, o primeiro com ácido lático para limpar os tetos e o segundo com iodo para a desinfecção; instalação de ventiladores e aspersores na sala de espera; formulação de dieta aniônica para melhorar a imunidade no pós-parto; e alternância dos piquetes de permanência dos animais para tentar fugir do barro. As atitudes tomadas também envolveram o descarte de animais ou a secagem de quartos crônicos.

Apesar dos cuidados, ainda existia dificuldade para melhorar o conforto e condições dos animais, “Fizemos tudo que foi possível, mas esbarramos no problema ambiental, que não tinha para onde correr. O rebanho foi aumentando, e as instalações não comportavam mais, os resultados foram piorando e meu tio Rubens falou que ou a gente mudava o sistema ou parávamos de produzir leite”, explica Eduardo.

Mudança para o compost barn...

Como a família avaliou que queria permanecer na atividade, e para isso teria que mudar o sistema, o confinamento foi a escolha que fizeram. Porém, ainda restava a dúvida quanto a construir um free stall ou um compost barn. Depois de muitas visitas e com o auxílio dos médicos veterinários Guilherme e Soraya Barbosa, que prestam assistência à propriedade e ajudaram a fazer as projeções dos possíveis cenários, ficou decidido que seria construído um composto.

No dia 7 de janeiro de 2015, os dois galpões com pista central e uma nova sala de ordenha ficaram prontos. Ao terminar as obras, todas as vacas em lactação foram deslocadas para a nova instalação. Depois da mudança, as vacas aumentaram o consumo de matéria seca e também a produção de leite. O aumento na produção foi contínuo.

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A mudança para o compost barn foi fundamental para melhorar a condição da mastite na fazenda. O conforto proporcionado contribuiu para a melhoria de vários aspectos, incluindo a saúde, produtividade e reprodução dos animais.

Efeitos na mastite...

Os efeitos da mudança para o compost barn apareceram logo. “Semanas antes da mudança para o composto, a CCS do rebanho chegou a mais de 1 milhão”, conta Eduardo ao mostrar o gráfico de acompanhamento do índice que aponta que hoje a CCS é de cerca de 320 mil. Ele argumenta que a ainda não satisfatória CCS se deve ao fato de que 15 vacas (o equivalente a 8% dos animais em lactação) são responsáveis por quase 50% da CCS do tanque.

A prevalência de mastite subclínica (CCS>200 mil) do rebanho é de aproximadamente 35%. Antes do composto, 60% dos animais se enquadravam nesta classificação. Dentre aqueles que possuem mastite subclínica, 80% são vacas com escore de teto ruim e que apresentam infecções recorrentes. Isto ressalta a importância de se preservar a condição dos tetos dos animais e diminuir ao máximo a sobreordenha.

Para melhorar os índices de CCS, a saída seria renovar parte do rebanho. Porém, existiam duas razões para que isso não fosse feito de imediato. A primeira delas, aponta Rubens, tio de Eduardo, foi porque a atividade leiteira os ensinou a fazer conta. “Se você vai fazer qualquer coisa, faça a conta, pelo menos, duas ou três vezes”. Seguindo o conselho que lhe foi dado, Eduardo fez cálculos e concluiu que o que eles ganham com o volume de leite produzido por estas vacas ainda é maior do que o que perdem de bonificação. O outro motivo é a intenção dos proprietários em aumentar o número de animais em lactação.

A nova ordenha proporcionou a oportunidade de melhorar ainda mais o manejo e evitar que os esfíncteres das novilhas se lesionem. A ordenhadeira é equipada com extratores automáticos, e a retirada dos conjuntos foi programada para quando o fluxo de leite for menor que 600 mL/min. Hoje, esta configuração já está em 700 mL/min. Outra programação alterada foi o tempo em que o fluxo de leite deve estar abaixo do mínimo para que o conjunto seja extraído. Normalmente, é de 15 segundos, mas a fazenda utiliza 5 segundos.

A mudança para o composto também influenciou a CBT da propriedade, que, em alguns meses do ano, passava de 200 mil no sistema antigo. Hoje, este índice está, recorrentemente, em 13 mil.

Manejo de ordenha...

A eficiência na hora da ordenha impressiona. A equipe de ordenhadores é muito bem treinada e consegue ser rápida, sem perder a qualidade. A nova sala de ordenha, que foi construída e instalada bem próxima dos novos galpões, tem dez conjuntos de cada lado, em linha média. Com este equipamento, são ordenhadas de 85 a 90 vacas/hora, o equivalente a nove vacas por conjunto. Com o número atual de animais, são realizadas três ordenhas por dia e gasta-se duas horas para cada.

O manejo de ordenha segue a seguinte rotina: os tetos são mergulhados em espuma de ácido lático para auxiliar na limpeza e, em seguida, são enxugados; logo após, é feito o teste da caneca e aplicado o pré-dipping com solução de iodo. O funcionário segue este procedimento em toda a linha e depois começa a enxugar os tetos usando papel toalha, na mesma ordem em que começou, e isso garante o tempo necessário para a desinfecção.

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Mastite clínica...

Os casos de mastite clínica são cada vez mais raros na propriedade. No dia da visita, havia apenas uma vaca sendo tratada. Ela era a última a ser ordenhada.

Quando algum animal é diagnosticado com mastite pelo teste da caneca, ela é classificada em três graus, e o tratamento é feito de acordo com a indicação a seguir.

Secagem...

O processo de secagem dos animais é feito com antibiótico de vaca seca, selante e anti-inflamatório por três dias. Mesmo vacas com produções maiores são secadas com sucesso, usando-se este método. O anti-inflamatório auxilia muito para evitar o desconforto inicial.

Efeitos na reprodução...

A mudança para o composto também gerou reflexos na reprodução dos animais. Eduardo fez uma rápida análise: “a taxa de prenhez saiu de 13 para 18, o que fez o intervalo entre partos projetado cair de 14,3 para 13,6 meses. Com isso, os dias em aberto foram de 154 para 133, o que reduz a perda de produtividade em 7%. Isso representa um incremento de 1,2 L/dia e um aumento da receita por animal de R$ 24,24 para R$ 25,93, entrando em caixa R$ 100 mil reais a mais por ano”.

Visão geral da propriedade...

As vacas em lactação são divididas em três lotes, um de primíparas, outro de multíparas e um terceiro de animais para secagem. A propriedade trabalha com dieta única para os dois primeiros, e apenas o lote de vacas de secagem recebe uma formulação diferente.

A propriedade é assistida há mais de dez anos pelo casal de médicos veterinários Soraya e Guilherme Barbosa, que são alguns dos responsáveis pela evolução da fazenda. Entre as contribuições da dupla, destacadas pelos proprietários, estão o planejamento com base em projeções futuras, a administração profissional da fazenda e uma melhor gestão da equipe de funcionários, que hoje conta com oito colaboradores fixos, todos com mais de sete anos de casa. Soraya e Guilherme utilizam o Sistema de Gestão IDEAGRI, para a gestão dos índices da fazenda.

Bezerreiro...

O bezerreiro é em sistema coletivo e foi construído a partir do aproveitamento das instalações antigas. Os animais ficam em um compost barn com cama de capim Napier picado, revirada uma vez por dia. As bezerras são divididas em dois grupos, um com animais até 30 dias e o segundo entre 30 e 70 dias. São fornecidos a elas 6 litros de leite por dia. Para as bezerras mais novas, o leite é fornecido em baldes com bico mais duro e fluxo mais lento. Isso aumenta a taxa de salivação e melhora o aproveitamento do alimento.

Guilherme e Soraya

A Fazenda Rio Doce utiliza o Sistema de Gestão IDEAGRI. Clique aqui e saiba mais sobre o software.

Leia a reportagem na íntegra, naversão digital da revista, disponível para assinantes.

Fonte: Revista Leite Integral, outubro 2017.


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