Confira a trajetória de empreendedorismo de duas gerações da família Girão, que levou à construção da Betânia Lácteos, relatada por Davi Girão e reflexões sobre os próximos passo dos sistemas de produção acima de 10.000 litros/dia. Os Laticínios Betânia são de propriedade da família, assim como a conhecida Fazenda Flor da Serra, cliente e parceira da Ideagri.

Meu pai é filho de produtor de leite, oriundo da cidade de Maranguape, que fica próxima a Fortaleza/CE. Quando meu avô faleceu, meu pai era muito jovem, tinha apenas 20 anos de idade. Assumir a propriedade da família, diante dessa perda, foi o desafio que ele abraçou e que marcou a sua entrada profissional no negócio do leite.

No início, a produção era de 500 litros por dia. Com a juventude a seu favor e muita vontade de trabalhar, os números da fazenda começaram a melhorar rapidamente. Esses resultados chamaram a atenção do mercado e meu pai passou a representar uma liderança na região. Como consequência, foi convidado a assumir uma diretoria na Cooperativa de Maranguape que, na época, era a que comprava leite na região.

Inserido competitivamente no mercado, vislumbrou como oportunidade a compra da Betânia Lácteos, que era um pequeno laticínio em Quixeramobim, no sertão central do Ceará. Numa região com um passado na produção de algodão nos anos 1970 e sem tradição na produção de leite, meu pai assumiu esse desafio aos 26 anos, se mudando para a cidade que tinha pouco mais de 15 mil habitantes e assumindo completamente o negócio industrial.

Na época, a Betânia Lácteos comprava 3 mil litros de leite por dia. O espírito empreendedor do meu pai fez com que a empresa crescesse muito rápido. Passados 12 anos, a Betânia Lácteos assumiu a venda de leite pasteurizado no Ceará, se expandindo posteriormente para Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Bahia. A empresa assumiu a liderança da produção de leite pasteurizado em todo o Nordeste. Naquela época o longa vida não existia, estamos falando do final dos anos 1980, início dos anos 1990.

Em 1993, meu pai construiu uma planta para a produção de leite em pó. Tempos muito difíceis ele enfrentou, pois logo depois, a região foi assolada por dois anos de seca muito forte. Tinha feito endividamento para montar a fábrica, não queria atrasar para o produtor e, assim, acabou aceitando uma proposta de venda para a Parmalat, que vinha crescendo no Brasil e comprando muitos laticínios.

Em 2002, sete anos depois da venda para a Parmalat, a nossa família recomprou a Betânia Lácteos. Meu irmão Bruno estava voltando dos Estados Unidos onde tinha ido cursar a Universidade e assumiu a presidência. Meu pai passou a fazer parte do Conselho e, desde então, vem apoiando na parte estratégica da Betânia Lácteos, que tem conseguido crescer ano após ano.

Atualmente, lideramos as vendas no setor de longa vida no Nordeste, com mais de 40% de participação no mercado e vice-líder nas vendas de iogurte. Somos a empresa que mais compra leite na região.


LIÇÕES DE EMPREENDEDORISMO

A minha história na gestão dos negócios do leite começou em 2008, quando fui morar nos Estados Unidos, para fazer cursar Administração, retornando ao Brasil em dezembro de 2011. Nós tínhamos, naquela época, uma planta para produção de iogurte Lebom na Paraíba. Voltei para assumir esse negócio com a estratégia de organizar a empresa e depois incorporar esse negócio à Betânia Lácteos. Ao invés dos 2 anos, conforme planejado, gastamos 5 anos para fazer isso. Enfrentamos épocas de seca em 2012 e 2013. Talvez tenha sido essa a grande escola da minha vida. 

UM DOS MAIORES DESAFIOS DA PRODUÇÃO DE LEITE PARA FAZENDAS ACIMA DE 10 MIL LITROS ESTÁ RELACIONADO À GESTÃO DAS PESSOAS



Foi meu primeiro negócio, muito desafiador, mas conseguimos vencer, dar a volta por cima e concluir o plano. Depois de concluída essa incorporação, em 2017, assumi a área de captação de leite e a gestão da fazenda, que fica a 200 km de Fortaleza.

Desde então, minha semana se divide em três dias na Betânia Lácteos e dois dias na Fazenda Flor da Serra. Quando assumi, a Fazenda produzia basicamente o que se produz hoje, mais ou menos 25 mil litros de leite por dia. O principal ganho da Flor da Serra com a minha chegada foram os controles financeiros. Passamos a ter os controles de custo, toda a parte de sistema, metas e planejamento.

Com toda essa gestão, ficou muito mais fácil dividir as tarefas e os desafios com a equipe. Investimos uma quantidade boa de dinheiro em softwares, mas também focamos muito em melhorar os índices de reprodução e de redução da mortalidade. Para alcançar esse objetivo, investimos em conforto, trouxemos tecnologias novas. Após um ano da minha chegada como gestor da Fazenda a gente decidiu fazer o préparto, investir no período de transição. Fui estudar, fiz uma pós-graduação com a Rehagro, fiquei um ano e meio estudando produção de leite para implementar esse aprendizado na Flor da Serra.

Acho que a melhoria nos resultados da Fazenda veio de gestão assertiva. Estamos com números considerados muito bons em mortalidade, já que chegamos a ter 6% a.a de mortalidade do rebanho e hoje alcançamos uma taxa de 2% a.a, que é um número muito bom. Estamos evoluindo na parte de reprodução. As taxas de prenhez eram de 12 a 13% e, neste ano, já deve ultrapassar 17% chegando a 18%. O melhoramento genético e o conforto do rebanho serão sempre buscados e estamos investindo bastante.

Nos últimos dois anos posso dizer que “arrumamos a casa”. De agora em diante, vamos aproveitar o crédito mais barato e investir na atividade. Acreditamos muito na produção de leite e nossa meta é alcançar 50 mil litros de leite nos próximos 2 anos.

Familia


Para que esse resultado seja alcançado a equipe tem que estar motivada. Acredito que um dos maiores desafios da produção de leite para fazendas acima de 10 mil litros está relacionado à gestão das pessoas. Precisamos investir muito em treinamento e na qualificação da mão-de-obra. A equipe tem que estar feliz no ambiente de trabalho, o que não é tarefa fácil. Numa ordenha de leite, por exemplo, é desafiador. Os horários não são confortáveis, então há uma dificuldade de manter essa turma motivada, engajada.

Outro grande desafio para fazendas com produção acima de 10 mil litros de leite está relacionado aos custos de insumos. O custo alimentar precisa ser reduzido para que se consiga ter um custo de produção de leite mais baixo e viabilizar, assim, o ganho de escala. Para alcançar esse resultado, precisamos trazer tecnologia nova, introduzir na nutrição do rebanho sorgo reidratado, milho reidratado. A produção, acima de 10 mil litros, precisa evoluir para 15, 20 mil litros porque nesse patamar é importante ter escala para reduzir os custos fixos.

O crédito mais barato para alcançar esses objetivos ajuda, mas o acesso a esse crédito precisa expandir. Tem muitos bons projetos no Brasil para serem entregues e esse pouco de capital seria suficiente para alavancá-los.

Nesse cenário, não vejo a indústria como uma saída para produtores acima de 10 mil litros de leite. Vejo que é possível ter o retorno de 10 a 15% na atividade de produção de leite. Uma coisa é produzir leite, outra coisa é industrializá-lo. Não acho que passar a industrializar vai dar uma rentabilidade maior à produção de leite. Os negócios são separados, são setores diferentes. Vejo que o caminho é esse: há espaço para ganhos de produtividade nas fazendas no Brasil, aumentando a média por animal via aumento do conforto, da nutrição, da tecnologia e, principalmente, da gestão 4.0.

 

 


IDEAGRI NA Flor da Serra - Girão agronegócios, Limoeiro do Norte, CE - Depoimento de Francisco Daniel Girão de Vasconcelos

"Gosto muito de trabalhar com o Ideagri. Ele atende 99% das nossas necessidades. Utilizamos muito bem essa ferramenta que auxilia a maximizar a eficiência e consequentemente todo o lucro da Fazenda."

 

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