De modo voluntário ou involuntário, o descarte de animais dentro do rebanho leiteiro é referência para reposição e indicador de eficiência de gestão.
Antes de iniciar a discussão proposta neste artigo, precisamos definir os tipos de descarte que acontecem dentro de uma propriedade. O descarte voluntario é a venda de animais excedentes. Nesse caso, podem ser vendidos animais que têm características que os tornam menos interessantes para aque le sistema de produção (menor produção de leite, por exemplo), mas são animais sem defeitos graves e que por isso podem interessar a outro produtor. Consequentemente, têm maior valor de mercado.
Vale ressaltar que em alguns casos o produtor pode optar por vender animais sem qualquer característica indesejável (vender a cabeceira do rebanho) e, com isso, agregar ainda mais valor à venda. A desvantagem dessa opção é a redução da evolução genética do rebanho.
Outro tipo é o descarte involuntário, aquele que ocorre independentemente da vontade do produtor. O animal é descartado devido à mastite, problemas de reprodução, de casco e outros problemas infecciosos. São animais descartados porque se tornaram inviáveis para o sistema e que normalmente são vendidos para o corte e, por isso, por um baixo valor. A soma do descarte involuntário com a mortalidade de vacas é a taxa de reposição de um rebanho.
A reposição de vacas de leite é de extrema importância para se garantir a manutenção do sistema de produção. Ela impacta diretamente sobre os custos do rebanho, pois é responsável por 10 a 20% dos custos da atividade leiteira, ficando, algumas vezes, atrás somente dos gastos com alimentação.
Outro aspecto importante a ser considerado é que a redução do descarte involuntário permite a existência de animais excedentes, que podem ser destinados para crescimento do rebanho ou venda voluntária.
Este artigo reconhece o impacto da mortalidade e do descarte involuntário de vacas sobre o negócio. São utilizados dados de 28 fazendas brasileiras, que já controlam suas causas de mortalidade e descarte. Seus índices servem para discutir a importância de se gerenciar esses indicadores nas fazendas.
A Tabela 1 mostra diferentes taxas de descarte (número de vacas descartadas sobre o numero total de vacas do rebanho por ano) em uma situação em que a produção por vaca, o preço de leite e os valores de descarte foram mantidos.
Observe que o custo de reposição comprometeu 13,8% da receita em um rebanho com 35,0% de reposição e 6,0% em um rebanho com 15,0%. Uma variação dessa proporção é possível em situações reais e pode ser responsável por dobrar ou reduzir pela metade a margem de uma atividade que, muitas vezes, trabalha com 10 ou 15% de margem de lucro.
CONTROLE ZOOTÉCNICO: BASE DO GERENCIAMENTO
Para que se faça um bom gerenciamento da mortalidade e dos descartes é necessário dispor de informações sobre a realidade de cada fazenda. Para isso, é necessário criar uma cultura de definir as causas e realizar boa escrituração das mesmas.
Com a geração dos dados e lançamento em um sistema que gere bons relatórios, poderemos transformá-los em informação gerenciável, ou seja, poderemos tomar decisões na busca de melhorias e maiores ganhos econômicos. Conhecendo as causas poderemos montar estratégias e planos de ação que busquem combatê-las.
A conscientização de veterinários e produtores sobre os benefícios da identificação das reais causas de morte, com a utilização de técnicas específicas, como necropsias e exames laboratoriais, é essencial, pois permite a criação de estratégias que podem minimizar a chance de recidiva do problema em outros animais do rebanho.
No Gráfico 1, estão representadas as principais causas de descarte involuntário e de morte em sistemas de produção de leite nos anos de 2008 e 2009, retirados do banco de dados do Sistema Informatizado de Gestão Agropecuária Ideagri.
A análise desses dados pode dar base à elaboração de estratégias gerenciais e definição de prioridades. As quatro principais causas são responsáveis por 63% dos descartes, ou seja, uma ação que busque a redução dos descartes nessas fazendas deverá focar prioritariamente essas quatro causas. Segundo os dados citados, a reprodução é a maior responsável por descarte nos sistemas de produção. Por isso mesmo, merece atenção especial, pois além da relação com descarte involuntário, está diretamente relacionada à duração da lactação.
Quando se trabalha para melhorar a reprodução, além de reduzir o descarte involuntário, outros benefícios também são adquiridos, tais como:
- redução dos dias médios em lactação, aumentando a média de produção da fazenda;
- aumento do número de bezerras nascidas, permitindo que a fazenda tenha fêmeas excedentes para serem vendidas ou recriadas;
- aumento da proporção de vacas em lactação em relação às vacas secas.
Os sistemas de produção devem ter uma estratégia de condução da eficiência reprodutiva. Isso deve contemplar uma rotina de atuação do veterinário, o controle dos índices e indicadores de eficiência e a tomada de decisão rotineira na busca de aumentar a eficiência.
MASTITE, DOENCAS DE CASCO E PNEUMONIA
É essencial que se conheça em uma propriedade as principais doenças que acometem os animais, para que se possa trabalhar de forma preventiva, e quando a doença ocorrer se possa atuar com mais eficiência. A mastite, os problemas de cascos e a pneumonia são as doenças mais incidentes que levam à morte ou ao descarte de animais nos sistemas analisados e, portanto, merecem atenção especial dos técnicos e produtores.
Estratégias precisam ser elaboradas e acompanhadas na rotina para que se tenha controle dessas causas de descarte. O passo seguinte para o gerenciamento e redução das causas de descarte é a compreensão de seu comportamento em cada propriedade. Com isso em mãos, decisões podem ser tomadas e os resultados deverão ser analisados.
Conhecer números como a incidência de mastite, a porcentagem de novos casos de mastite, a taxa de cura das mastites, a frequência dos diferentes agentes, o comportamento das mastites em cada rebanho (ambientais x contagiosas) vai permitir a elaboração de estratégias especificas e com maior chance de acerto.
Outro exemplo seria o controle do escore de locomoção,a definição do tipo de lesão de casco que afeta o rebanho e das estratégias de curativos e de casqueamentos preventivos.
E preciso que se siga uma lógica de gerenciamento de problemas. Vejam o exemplo abaixo em uma propriedade onde a mastite é um problema:
1 - Identificação do problema (a mastite é realmente um problema expressivo em meu negócio, segunda causa de descarte e, por isso, será priorizada);
2 - Entender o problema e definir quais números serão monitorados para avaliar o status do problema (que tipo de mastite prevalece no rebanho, que nível de infecção está ocorrendo, quais as possíveis causas desse problema especifico);
3 - Identificar falhas reais que sejam oportunidades de melhoria (onde existem falhas que estão favorecendo a mastite);
4 - Corrigir as falhas com planos de ação específicos;
5 - Monitorar novamente para avaliar resultados;
6 - Reforçar as medidas acertadas e identificar novas oportunidades de melhoria.
Os níveis de descarte e morte têm sido uma das maiores diferenças entre fazendas quando comparamos resultados econômicos de diferentes sistemas de produção. Por isso, o controle desses dados e a atuação sobre os problemas são de grande importância na busca por sistemas de produção cada vez mais eficientes.
Autores:
Tiatrizi Siqueira Machado e Clovis Correa são médicos veterinários e pertencem à equipe da ReHAgro - Recursos Humanos para o Agronegócio; telefone: (31)3264-0312
site: www.rehagro.com.br
Heloise Duarte é médica veterinária e pertence à equipe IDEAGRI; telefone: (31)3344-3213
site. www.ideagri.com.br
Fonte: Revista Balde Branco, março de 2010.