Confira o ponto de vista de Eduardo Pedreira, professor de Sustentabilidade Corporativa da FGV, sobre a importância de assumirmos responsabilidade por nossos atos e agirmos de forma ativa nas alternativas para a resolução de problemas. Para o autor, é fundamental, antes de mais nada, nos convencermos disso ao invés de atribuir a outras pessoas ou fatores a responsabilidade.

Certamente você já ouviu falar do incrível trabalho feito pelos chamados grupos anônimos, entre os quais o mais facilmente conhecido é o AA. Ao longo de sua história, os Alcoólicos Anônimos foram essenciais na luta travada por muitas pessoas contra seu vício ou doença. Em linguagem corporativa, eis aqui um caso com altas taxas de sucesso nos resultados que entrega.

Eles se baseiam num programa conhecido como “12 passos”, que devem ser dados para se alcançar a tão sonhada autonomia. Um dos mais importantes exige que cada um assuma a responsabilidade pelo seu comportamento compulsivo. À primeira vista pode até parecer algo perverso, dado que a experiência de ser dominado por um vício nunca é de inteira responsabilidade de uma só pessoa. Ainda assim, quem se propuser a trilhar os 12 passos deverá ter a coragem de dizer para si mesmo: “Este vício é meu, eu sou responsável pelos meus atos”.

Se esse plano fosse levado a sério por todos nós, muitas coisas seriam diferentes. Temos no nosso país esta mania de não assumir responsabilidades. Diria até mesmo ser um trejeito latino-americano. Nossa pobreza e desigualdade já foram explicadas, com grande sucesso de público, como sendo consequências da postura de países desenvolvidos exploradores da nossa riqueza. Aliás, somente se desenvolveram por terem nos saqueado, reza a lenda vitimizadora dos trópicos.

Espelhando esta macrorrealidade, no ambiente de trabalho, esta incapacidade de assumir o que deve ser assumido é prática corrente. A maioria de nós deseja crescer dentro do nosso ambiente organizacional, porém, muitas vezes nos esquecemos das responsabilidades engendradas numa posição de liderança. Seja no nível gerencial ou no estratégico, pessoas precisam parar de culpar o destino, o ambiente, as circunstâncias, a equipe, a crise e reconhecer corajosamente o seu quinhão de responsabilidade. Do outro lado da moeda, todos aqueles que estão sob a liderança de alguém, igualmente necessitam parar de nhem-nhem-nhem e fazer com inteligência, dedicação e competência aquilo que se requer.

Definir a responsabilidade objetiva nas situações de trabalho nem sempre é fácil. Há um feixe de motivos explícitos e implícitos por trás da dinâmica dos acontecimentos. Porém, se todo mundo tivesse a coragem de assumir seus erros, deixaríamos de gastar tanta energia negativa se defendendo, para transformá-la em força criativa geradora de soluções.

Não existe avanço, progresso, prosperidade, transformação, sem o ato corajoso de dizer a si mesmo aquilo que precisa ser dito. Sem meias palavras. Sem esta nossa tendência ao autoengano, o mais eficiente de todos os enganos. Importa parar de ser vítima, de sentir pena de si mesmo, olhar nos olhos de quem está ao redor e dizer com firmeza: “Sim a responsabilidade é minha, contudo, aqui estão cinco alternativas para avançarmos nesta situação”. Obviamente que convencer-se disso primeiramente é a receita para convencer os outros.

Fonte: Revista Brasileira de Administração, Edição Jan/Fev de 2016