HERANÇA ABENÇOADA
A Fazenda Paraíso, localizada em Patos de Minas/MG, é pura tradição! Alia o jeito mineiro de ser e a fé que os guia com as tendências de mercado.
A Fazenda Paraíso é um abraço. E, em tempos de pandemia, isso significa muito! Substituímos esse ato físico, de amarrar os braços, pelos olhares, pelas palavras e orações, pelo biscoito de polvilho e pela emoção que tomou conta da sala com a prosa boa. Duas gerações (e uma pequena terceira) unidas pela paixão pelo leite, aconchegam uma história de luta, de fé e de um caminhar voltado para as tendências de mercado.
HISTÓRIAS PARA CONTAR
Guilherme Caixeta é o filho caçula do Sr. Hilton Caixeta e da D. Fátima. Mas, a história desse lugar começa bem antes dele. A Fazenda Paraíso guarda as memórias do seu pai e dos seus avós, que criaram 15 filhos naquelas terras.
O patriarca da família, Sr. Hilton, tem um sorriso largo, que a gente viu, num primeiro momento, pelos olhos, já que a máscara e a distância foram necessárias nestes tempos difíceis que vivemos. Ele trabalhou como Químico por muitos anos e, quando seus pais faleceram, na década de 1970, voltou o propósito e a força para o trabalho na fazenda. E, nessas mesmas terras onde cresceu, criou sua família, o filho Guilherme e suas três irmãs, sempre sob o olhar de fé e as orações da D. Fátima.
Desse passado, cada vez mais longe, Sr. Hilton se lembra, com orgulho, que o avô do Guilherme “fechava 100 animais no curral, o que dava para produzir uns 10, no máximo 15 queijos. Tirava o leite à mão, com o bezerro ao pé”, se emociona.
As maiores provas de perseverança do Sr. Hilton na pecuária leiteira se concentram, principalmente, em três momentos: quando decidiu investir nos tanques de resfriamento, nos anos de 1990 e na ordenha mecânica, no ano de 2000; no melhoramento genético do rebanho e, mais recentemente, no Compost Barn, com a decisão do Guilherme de fazer a gestão dos negócios. Os problemas de saúde afastam o Sr. Hilton da lida diária da fazenda, mas não da paixão pela produção de leite. Ele tem orgulho do filho Guilherme e diz: “entendo os custos e os riscos dos investimentos, mas já enxergo os benefícios. Acredito que estamos no caminho certo”!
Os pais do Guilherme são a sua maior fonte de inspiração. Ele acredita que seus pais “são vitoriosos por terem conseguido investir na formação superior de todos os filhos. Quero dar continuidade a esse legado, ao lado da minha esposa Sandra, e ensinar a minha filha Lavínia, o valor do leite”
Usando a máxima do filósofo Mario Sérgio Cortella, Guilherme disse que aprendeu, desde cedo, que “vaca não dá leite”. “Tudo é fruto de muito trabalho. Muita coisa evoluiu na fazenda, inclusive, a genética do rebanho Holandês. Hoje, sei as variáveis que tenho e as que não tenho controle. O custo de produção é uma daquelas que tenho como administrar, para alcançar os bons resultados da fazenda”
"HOJE, SEI AS VARIÁVEIS QUE TENHO E AS QUE NÃO TENHO CONTROLE. O CUSTO DE PRODUÇÃO É UMA DAQUELAS QUE TENHO COMO ADMINISTRAR, PARA ALCANÇAR OS BONS RESULTADOS DA FAZENDA
NOS DIAS DE HOJE
Guilherme conduz a visita e nos mostra a mais recente inovação da fazenda: o galpão de Compost Barn. Inaugurado em 2019, tem capacidade máxima de 250 animais, divididos por uma pista central. Atualmente, o galpão abriga 184 vacas em lactação e, o restante, são vacas gestantes, secas e em tratamento, num total de 213 cabeças. A cama do composto é feita de palha de café, com 60 cm, e é trocada uma vez ao ano. A subsolagem é feita duas vezes no período da seca e, três vezes, nas águas.
A produção diária atual é de 6.100 litros, com média de 33,15 litros/animal/dia. “Acredito que essa média subirá com a montagem da sala de aspersão, que será instalada ainda essa semana”, afirma Guilherme, que também espera ganhos no que se relaciona à fertilidade dos animais. O conforto do rebanho orienta os investimentos da fazenda. Prova disso, são os ventiladores instalados no galpão, que ficam ligados 24 horas no período seco do ano.
A base da dieta das vacas é a silagem de milho, além de feno, caroço de algodão, casquinha e farelo de soja, ração comercial e minerais. “Toda a silagem de milho vem da nossa produção na fazenda. Nosso próximo investimento será no concentrado de grão úmido”, afirma Guilherme.
ONDE O MILAGRE ACONTECE
Muito produtor concorda que a ordenha é o coração da fazenda. Naquele espaço, todo o esforço, desde a criação das bezerras, passando pela nutrição e manejo, se materializam na forma do leite de qualidade.
É esse o pensamento da Fazenda Paraíso. Para que tudo aconteça dentro dos padrões, 4 funcionários são alocados para a realização das 3 ordenhas. Toda a dedicação dos envolvidos nessa rotina é exaltada pelo Guilherme. “Tenho pessoas ao meu lado há vários anos, dedicados à essa rotina que não é fácil, em virtude da rigidez dos horários”.
O leite segue para os 2 tanques, cada um com capacidade de 5000 L. Um deles foi adquirido recentemente, e Guilherme afirma ter sido um investimento estratégico: “esse segundo tanque adquirimos com a intenção de, futuramente, fazer a segregação do leite das vacas A2A2”.
CUIDADO COM AS PEQUENAS
As bezerras são a grande paixão da Fazenda Paraíso. Guilherme diz que optou pelo sistema individual, por garantir uma melhor visualização dos animais e seus comportamentos, favorecendo o diagnóstico precoce de doenças, bem como a ausência de contato entre os animais, reduzindo a transmissão de doenças, em especial, de pneumonia. As 44 casinhas abrigam as bezerras dos 10 aos 80 dias de vida, ou até que dobrem seu peso ao nascimento. Do bezerreiro individual, seguem para um alojamento coletivo, com lotes de 10 animais.
“Depois que recebemos uma consultoria especializada, muitos protocolos se alteraram. Atualmente, as bezerras que nascem seguem para um local com feno e coberto, durante 10 dias, onde recebem os manejos iniciais. Quando as vacas parem, o colostro é analisado e, se estiver dentro dos padrões, é oferecido às bezerras. Caso contrário, o colostro do banco é descongelado”, explica Guilherme. O fornecimento dos 4 litros é feito via sonda.
Quando seguem para o bezerreiro, recebem 2,5 litros de leite, 3 vezes ao dia, até os 30 dias. Dos 30 aos 60 dias, 5 litros de leite/dia, divididos em dois fornecimentos. Dos 60 aos 80 dias, ou até que dobrem o peso ao nascimento, quando são desmamadas, têm acesso à ração e iniciam o consumo de silagem. Em seguida, são transferidas para o sistema coletivo. “Com essas adequações, estamos conseguindo um ótimo ganho de peso, que chega a 900g por dia. Todas essas melhorias só foram possíveis em virtude do empenho dos funcionários envolvidos”.
O CAMINHO PARA O FUTURO
Os touros Gir registrados, adquiridos pelo Sr. Hilton no passado, foram cruzados com vacas Holandês, para manter a rusticidade e aumentar a produtividade do rebanho. O rebanho meio sangue foi evoluindo com a chegada de mais animais Holandês registrados, gerando crias de 7/8 e 3/4 de muita qualidade.
O trabalho genético, voltado para a produção de leite A2, ao longo dos anos, gerou uma frequência de 51,5% de vacas A2A2, 45,5% de A1A2 e somente 3% de A1A1.
“A partir desse resultado, estamos inseminando as vacas com sêmen A2A2 e, dentro de um ou dois anos, pretendemos estar com todo o rebanho A2A2”, afirma Guilherme. “Acredito muito nesse valor agregado do leite. Percebo esse movimento dos consumidores na direção de produtos diferenciados e vinculados ao conjunto de valores”, completa.
Para seguir esse caminho, de uma coisa Guilherme tem certeza: a certificação é muito importante! “A certificação sinaliza todo esse movimento a favor de um nicho de mercado. Acredito que seja muito rápido esse movimento no sentido do leite A2. Esse é um caminho sem volta.” Se Deus quiser!
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