Criatório de Girolando conquista primeira colocação no 9º Índice Ideagri do Leite Brasileiro, mostrando que qualidade genética é boa gestão do negócio são o caminho para estar entre as fazendas de grande eficiência produtiva.

Quando decidiu selecionar a raça girolando, a família do criador José Coelho da Rocha estava em busca de animais rústicos e produtivos nos dois sistemas de produção da fazenda (pasto e confinamento).

Localizada no município de Morro da Garça, na região central de Minas Gerais, a Fazenda Riacho dos Porcos tinha um rebanho de vacas Holandesas e cruzadas e decidiu inseminar as puras com renomados touros Gir Leiteiro da época, para produzir animais girolando.

“No ano de 2010, recebemos a visita do técnico da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, André Junqueira. Foi quando começamos a registrar todo rebanho”, lembra Carlos Rocha, que junto com o irmão Henrique, comanda o criatório de Girolando JCRF. Uma história acompanhada pelo pai, o associado da Girolando José Coelho da Rocha, que passou o comando dos negócios para os dois filhos há 15 anos, mas não perde de vista a evolução da raça ao longo deste período.

Com orgulho, ele viu a Fazenda Riacho dos Porcos conquistar a primeira colocação na 9ª edição do Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB), cujo resultado foi anunciado em abril. Com 8,91 pontos, a propriedade teve a maior nota de todos os três perfis avaliados pelo e IILB, sendo Perfil 1 voltado para rebanhos bovinos de raça europeias; o Perfil 2, para rebanhos intermediários; e o Perfil 3, para rebanhos mestiços. “A nossa seleção busca animais rústicos, férteis, longevos e produtivos. E, o mais importante, rentáveis. Aliado a isso, utilizamos os dados gerados pelo software e Ideagri na tomada de decisão, pois temos todos os relatórios que precisamos com muita facilidade. Atribuímos também essa conquista a dedicação, empenho e muito trabalho de toda nossa equipe”, assegura Carlos.

José Coelho da Rocha recebeu o troféu no dia de seu aniversário de 82 anos.

 

O índice Ideagri avaliou 1.130 rebanhos leiteiros no país e apontou que os produtores que se colocam entre os 10% mais eficiente são melhores que a média dos produtores em todos os dos indicadores chaves da publicação, sendo que em seis deles apresentam diferenças superiores a 20%. “Em 2018, a diferença de 20% era presente em apenas dois desses indicadores“, diz Heloise Duarte, diretora de operações da Ideagri e responsável pelo levantamento. “Os bons, sejam pequenos, médios ou grandes, estão ficando mais eficientes e crescendo“, afirma.

Os resultados mostram que os produtores de leite supereficientes estão alargando sua vantagem de produtividade em relação às fazendas geridas profissionalmente do Brasil. Os 1.130 rebanhos somam 298 mil matrizes, responsáveis pela produção de 5,8 milhões de litros de leite por dia (ou 2,1 bilhões de litros por ano, o equivalente a 6,3% de todo o leite do Brasil). “Isso quer dizer que são fazendas com grau razoável de gestão”, diz Heloise.

A produção de leite das fazendas avaliadas foi de 23,44 litros por vaca por dia, contra 28,76 litros/vaca/dia das fazendas classificadas entre os 10% melhores do grupo, uma diferença de 22,7% em favor das mais eficientes. “Usamos piquetes rotacionados nas águas e pista de trato no inverno, alcançando bons resultados nos dois sistemas de produção. A média está em 28 kg/leite no inverno e 23 kg/leite de leite nas águas“, diz Carlos. Com 410 animais no total, sendo 190 vacas lactação, a Fazenda Riacho dos Porcos conta com rebanho predominantemente da composição racial CCG 1/2 e CCG 3/4.

Nas fazendas Top 10% do IILB, a taxa de prenhez (o número de vacas que emprenham em relação ao número de vacas aptas a empenhar) e 47% maior. E nas fazendas Top 10%, vacas e bezerras morrem menos e iniciam o período de lactação mais cedo. “Quando você soma todas essas vantagens, o diferencial em termos de negócios é gigante”, afirma Heloise.

A Fazenda Riacho dos Porcos investe em biotecnologias de reprodução para acelerar o ganho genético do rebanho. Enquanto em Inseminação Artificial (IA) é utilizada para produzir os animais CCG 3/4, para comercialização em seu leilão anual, a Fertilização in Vitro (FIV) é destinada à produção de exemplares CCG 1/2 para fazer a reposição de matrizes do criatório.

Já no sistema de seleção entram ferramentas como o Controle Leiteiro Oficial, que é realizado desde 2014. “Com o Controle Leiteiro, podemos ofertar para o mercado doadoras com lactação aferida e comprovada. Também oferecemos reprodutores com mães provadas por essa importante ferramenta de seleção“, destaca Carlos. Segundo ele, os dados referentes a qualidade de leite (proteína, gordura e CCS) fornecidos pelo Controle Leiteiro tornaram a ferramenta ainda mais eficiente. “É mais uma forma de seleção do rebanho de grande importância e que será cada vez mais valorizada pelo mercado”, garante o criador.

 

A gestão eficiente na pecuária leiteira, como comprova a experiência do criatório de Girolando, é primordial para quem quer se manter no mercado, com rentabilidade e produtividade. Na opinião da diretora de Operações da Ideagri, produtores sem gestão profissional encontrarão cada vez mais dificuldades para se manter economicamente viáveis no setor. O IILB-9 comprova o que vem sendo mostrado por outros dados estatísticos do setor do leite. O levantamento TOP 100, realizado pela Milkpoint e que ranqueia os 100 maiores produtores de leite do Brasil, descobriu, por exemplo, que a “linha de corte” do 100º colocado em 2020 foi a produção de 11.823 litros de leite por dia, 16% superior aos 10.200 litros/dia do centésimo colocado em 2019.

O IILB também confirma essa evolução. O índice geral calculado por média ponderada dos 12 indicadores de produtividade aponta que, nesta 9ª edição, os Top 10% alcançaram nota de 7,27 pontos em 10 possíveis. “Na média, o índice alcançou 4,50 pontos, a melhor pontuação desde março de 2019, quando o IILB foi lançado e quando o índice foi de 3,94 pontos”, lembra ela.

Para família do associado José Coelho da Rocha, a vitória do criatório nesta edição do IILB só confirmar a vocação da raça girolando em impulsionar a pecuária leiteira do país. “O nosso negócio é familiar, mas investindo em genética de qualidade e em tecnologia temos a alegria de crescer com apoio dos nossos pais. Fazemos uma gestão já pensando na sucessão do negócio”, conclui Carlos.

Bem-estar animal melhora eficiência

O índice Ideagri do Leite Brasileiro comparou também dados deficiência de fazendas com selo de bem-estar animal, concedido pelo programa de certificações #BebaMaisLeite. “O resultado confirmou que prevíamos: há ganhos de eficiência e qualidade nas fazendas certificadas. Isso é importante porque o conceito de boas práticas produtivas ganha força na opinião pública e já consumidores dispostos a comprar produtos certificados com esses quesitos”, informa Heloise Duarte.

Entre os rebanhos avaliados no IILB-9 estão nove fazendas certificadas e estas, coletivamente, alcançaram nota média geral de 5,31 pontos, 18% melhor em relação a nota média geral do IILB-9 (4,50 pontos). Isso indica que o desempenho médio das fazendas certificadas foi superior à média geral das 1.130 fazendo os avaliadas no IILB-9.

Um dos indicadores que destaca as fazendas certificadas das demais é a taxa de mortalidade de vacas, significativamente melhor (19% mais baixa). “Essa diferença é indicativa de que fazendas que oferecem boas práticas de conforto e bem-estar animal para as matrizes podem obter maior longevidade para os animais” explica Heloise.

Outra diferença: a taxa de prenhez nas fazendas certificadas é 18% superior à média geral do IILB-9. A taxa de prenhez engloba a taxa de concepção e a taxa de serviço e reflete, de forma muito clara e rápida, o resultado de todos os manejos da fazenda, não só os reprodutivos. Além disso, tem enorme impacto na rentabilidade do sistema de produção. “Cada dígito a mais nesse importante indicador deve ser avaliado de forma muito positiva”, avalia diretora da Ideagri.

Heloise Duarte aponta também a taxa de sobrevivência de bezerras, importante indicador no qual as fazendas certificadas apresentam o número 8,38% melhores. “A cada 100 bezerras nascidas nos rebanhos certificados, 11,70 morre antes de completar um ano, enquanto na média geral, morrem 12,77 a cada 100”, comparar ela. “O saldo é de uma bezerra viva a mais, a cada 100, nos rebanhos certificados”.

Parceria confirmada

A Associação Brasileira dos Criadores de Girolando e a Ideagri firmaram parceria para 2021. A agtech é a nova Parceira Master da entidade, passando a desenvolver em conjunto trabalhos de promoção das tecnologias do setor.

Para o presidente da Girolando, Odilon de Rezende Barbosa Filho, a parceria com a Ideagri corre em um momento muito importante para a pecuária leiteira nacional, em que a gestão é um dos fatores decisivos para o sucesso dos negócios. “Esse sempre foi um gargalo em muitas propriedades leiteiras. Por isso, a Girolando vem atuando em conjunto com a Ideagri nos últimos anos, e agora essa parceria consolida-se ainda mais para que possamos levar informações relevantes para nossos associados”, assegura o presidente.

O software Ideagri foi o primeiro a ser integrado ao banco de dados de Girolando, o que ocorreu em 2019. Atualmente, é usado em mais de 5.000 fazendas no Brasil. “O pecuarista precisa ter atenção na gestão dos seus negócios e de seu plantel, tanto financeiramente quanto os o zootecnicamente. E o software Ideagri faz a integração direta da comunicação de animais, relativa a  dados tais como monta natural, inseminação, nascimento, parto, para a associação”, destaca o médico-veterinário e Head de Negócios B2B da Ideagri, Henrique Rocha.