A Fazenda Bom Retiro deve ser entendida nos pequenos detalhes. Eles revelam o cuidado e empreendedorismo com que pai e filha tocam os negócios. Localizada em Pouso Alto/MG, a fazenda mistura tecnologia na produção de leite com a atenção especial às pessoas envolvidas na produção.

Concluir alguma coisa sobre a Fazenda Bom Retiro, de longe, é precoce. Olhar aquela coleção de telhados e vacas Holandês, tudo isso indica, mas não revela totalmente a fazenda. É que, por incrível que possa parecer, o lugar tem além do corpo, alma.

Isso tudo é fruto de uma energia que se pode sentir, vinda da relação equilibrada entre pai e filha, Amauri e Anna, e que extravasa nos detalhes. Esse negócio cheio de leite e de gente que trabalha com dedicação, competência e planejamento só poderia ter, como resultado, sucesso, nos mínimos detalhes.

A ALMA DO NEGÓCIO

A Anna conta que não é boa com datas, no entanto, não erra nenhuma. A história da fazenda vem do avô paterno. Seu pai, Amauri Pinto, comprou a parte dos irmãos e, naquela época, manteve o sistema de pastejo rotacionado. Embora o manejo tenha sido exemplo, justificando os vários dias de campo recebidos na época, as 200 vacas sofriam com os constantes alagamentos. Foi natural que Amauri pensasse numa solução e, em 2011, decidiu construir o primeiro galpão de free stall, com capacidade para 504 camas.

O grande negócio da família era a granja de aves de postura. “Aqui era como um hobby do meu pai, que foi se tornando um negócio mais sério”, relata Anna. A construção do segundo galpão de free stall, em 2014, para 284 camas, marca o olhar empreendedor e exclusivo para o negócio do leite. Marca, também, a chegada da Anna na pecuária leiteira, depois de se formar em Gestão do Agronegócio.

“Quando cheguei, me senti perdida nas várias possibilidades de atuação. Mas, meu pai me conduziu e fiz vários estágios, passando pela avicultura, suinocultura, e por todos os setores da fazenda leiteira. E gostei da produção de leite!”, conta Anna.

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Sobre a relação com o pai, revela características que justificam o sucesso que ele alcança nos vários setores do agro que investe. “Meu pai é muito desapegado e empreendedor. Gosta de ver o negócio crescer e de criar oportunidades para as pessoas. Busca criar relações comerciais que sejam boas para as pessoas envolvidas, não só para ele. Por ser assim, ele vendeu, faz dois anos, a granja de aves, e passou a focar na produção de leite (além do gado de corte na fazenda em Cruzília, suinocultura, agricultura com armazéns, atividades que compõem o grupo)”. Essa é a melhor definição de empreendedor!

Com a presença da Anna, dividindo a gestão da Bom Retiro, todas as tomadas de decisão se aceleraram no sentido de fazer a fazenda crescer. E a sua atuação reforça uma tendência na pecuária leiteira: a do fortalecimento da gestão das pessoas. “Faz dois anos que estamos investindo no desenvolvimento das lideranças, já que todo o administrativo foi reformulado, com a venda da avicultura, que funcionava como uma central”, explica Anna.

“Temos as gerências, os supervisores e as lideranças de cada área, estrutura que foi impulsionada pela presença do setor de Recursos Humanos na fazenda. Tanto eu quanto meu pai acreditamos que desenvolver as lideranças é uma das coisas mais importantes para o sucesso do nosso negócio. Fazemos isso ouvindo os responsáveis pelas atividades de cada setor, ensinando, organizando os processos e conferindo os resultados”, ensina.

As reuniões semanais, promovidas na fazenda, permitem que a comunicação entre os setores flua. As áreas são bem definidas e ficam expostas em um grande quadro na sala de reuniões. Anna explica que “como as áreas são interdependentes, os líderes dos setores, ao se reunirem, percebem como uma pequena ação em uma tem impacto na outra. A equipe como um todo se mostra mais engajada e em busca dos propósitos definidos”.

O CORPO DA FAZENDA

A produção da Bom Retiro se organiza em dois galpões de free stall (284 e 504 camas) e um compost barn, com 400 camas. A Anna comenta que o manejo da cama é o maior desafio nesse tipo de confinamento. “Atualmente, o galpão recebe 120 vacas de baixa produção, que estão para secar. O último lote de produção de leite, novilhas prenhas, pré e pós parto imediato ficam aqui”, explica Anna. “Pretendemos fazer a reposição da cama com maravalha e esterco seco com bioativado.”

É nesse espaço, também, que fica o laboratório capaz de realizar o diagnóstico microbiológico de mastite na fazenda. “Por ser um método de resultado rápido e preciso, auxilia muito na tomada de decisões, principalmente, do uso de antibiótico ou não no tratamento de mastite clínica. Foi um detalhe grande e revolucionário na fazenda!”, afirma Anna.

Quanto ao free stall, as camas de maravalha que substituíram, há dois anos, a borracha, foram um detalhe importante que contribuiu para os bons resultados alcançados. A maravalha é produzida na própria fazenda, a partir da lenha comprada. Os animais agradeceram: houve aumento da taxa de ocupação da cama, diminuição de problemas de jarrete e de locomoção.

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AJUSTE FINO

Cada vez mais, são os detalhes que definem a eficácia da nutrição do rebanho leiteiro confinado. “Estamos muito abertos para as novidades e queremos resultados e acompanhamento”, declara Anna.

Para tanto, a equipe responsável passa por treinamento, a cada 15 dias, para discutir temas como a garantia do conforto dos animais, a importância do ajuste da cama e do teor de matéria seca da dieta. “As vacas são animais que gostam de rotina. Quanto menos oscilação houver nos ingredientes, maior a precisão da dieta e, portanto, dos impactos positivos na produção”, afirma Gilson Dias, gestor técnico de bovinos leiteiros na Agroceres Multimix. A mensuração da matéria seca dos alimentos, por exemplo, tem que ser acompanhada, para que a dieta tenha um padrão. “O resultado do treinamento da equipe faz com que eles mesmos indiquem as alterações nas condições dos alimentos, evitando perdas e mudanças indesejáveis no padrão da dieta”.

“Aqui na fazenda temos nutrição de precisão, e é gratificante a gente ver os resultados aparecendo”, comenta Gilson. Com precisão, os vagões quantificam o alimento colocado, a hora e o desvio. Sabe-se, de forma antecipada, o quanto cada animal deverá comer para produzir uma determinada quantidade de leite, e é possível comparar com o que efetivamente foi realizado.

Gilson explica que, em um estudo americano recente, realizado com mais de 1000 animais, foi evidenciado que a cada hora de descanso da vaca, a produção de leite pode aumentar em 1,4 litros por animal. Esse resultado revela a importância da gestão dos processos e do treinamento da equipe. “Em outras palavras, precisamos garantir que a vaca está comendo aquilo que foi previsto na formulação da dieta”, resume Anna.

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O CORAÇÃO DA FAZENDA

A decisão de ampliar o número de animais, chegando a 900 vacas, com o rebanho confinado, fez com que optassem, em 2017, pela ordenha rotatória, com 40 postos. A escolha por esse sistema veio da busca pelo bem-estar animal, já que as vacas se sentem muito tranquilas com a ordenha, que trabalha de forma silenciosa. Na sala de espera, os animais chegam ruminando, são resfriados, e entram para serem ordenhados de forma confortável. Os funcionários da ordenha, que acontece três vezes por dia, acham o dia a dia menos trabalhoso, têm seus postos de trabalho e funções bem definidos.

Os resultados são facilmente identificados, e o primeiro deles é a média: 35,9 kg leite/vaca/dia. “Esses resultados começaram a aparecer no ano passado. Ficou claro para mim que, cuidar dos detalhes é fundamental – olhar para as vacas, o que elas precisam e como podemos melhorar. Temos que entender que quando os processos se encaixam, o leite chega!”, comemora Anna.

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PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL

Todos os dejetos advindos da produção de leite e da suinocultura da Fazenda Bom Retiro seguem para dois biodigestores de 1.500 m3 cada um e um terceiro biodigestor, com 2000 m3. Além disso, a fazenda instalou um moto-gerador de 330 kva. Um agitador separa os sólidos dos líquidos, que geram o gás. Esse sistema propicia uma produção de biogás bastante eficaz: produz e distribui energia elétrica e biofertilizante. A piscina recebe o esterco líquido, sem cheiros, e o carretel o joga na área de plantio de Tifton. Trata-se de uma solução que gera resultados sustentáveis para o bolso e para o meio ambiente.

Uma estação faz todo o tratamento das águas dos poços. Outra iniciativa sustentável foi a instalação de caixas de captação de água de chuva nos galpões. Tudo na Fazenda Bom Retiro é pensando, nos mínimos detalhes, para que a produção ande de mãos dadas com o meio ambiente.

BEZERREIRO DETALHADO

O bezerreiro, antes do tipo argentino, foi substituído, há um ano, por um novo sistema, o de gaiolas suspensas. Essa foi a solução encontrada para o aumento do número de bezerras e, de cara, foram construídos dois galpões, com capacidade para 200 animais em cada um. O tamanho maior do bezerreiro atende a necessidade de fazer, bem feito, o vazio sanitário. Anna explica que “estamos aprendendo ainda a lidar com esse bezerreiro, é um desafio diferente da nossa experiência anterior. As bezerras estão em um ambiente controlado, ficam aglomeradas e casos de pneumonia podem ser mais frequentes”.

As gaiolas foram projetadas na própria fazenda, e os pisos são iguais aos utilizados na suinocultura. As placas afixadas nas gaiolas indicam todo o manejo para cada animal. “Conseguimos acompanhar os resultados por animal. Identificamos se teve alguma doença, o resultado da colostragem, que pode indicar necessidade de maior cuidado. Os funcionários, de posse dos resultados, interpretam e tomam as decisões mais assertivas.”

As bezerras são alimentadas com leite de descarte pasteurizado, em duas mamadas diárias. Começam com 2 litros, passam logo para 4 litros, em uma semana, até 49 dias. Dos 50 aos 69 dias o volume é reduzido para 3 litros. A partir dos 70 dias consomem 2 litros até o desmame, que é feito com 105 kg, em torno de 79 dias de vida.

Os procedimentos operacionais do bezerreiro ficam expostos na sala ao lado. Da limpeza da gaiola até os protocolos de tratamento, tudo é anotado e analisado. Desde o ganho de peso das bezerras até o tratamento recebido, a análise permite entender o que reflete a idade do desmame aos 105kg, um bom indicador de qualidade. “Qualquer pessoa que chegar por aqui consegue entender o funcionamento do bezerreiro. Tem que ser algo visual e prático, capaz de induzir o movimento rápido para o ajuste e resolução dos problemas”.

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PARA O FUTURO

Sobre o futuro, Anna detalha: “O meu pai é muito empreendedor – é preciso conhecê-lo para entender como funciona o pensamento dele. O que ele toma de decisão agora é porque ele já sabe o que pretende no futuro. Nossa missão era produzir 30 mil litros de leite, com 900 vacas, em 2022. Alcançamos esse resultado esse ano. Queremos ampliar para 1200 animais e 50 mil litros de leite e começar a produção na outra fazenda. Confio muito, admiro, me espelho e aprendo BOM RETIRO EM NÚMEROS muito com meu pai. Acreditamos muito que o leite é um negócio sustentável e que se toca sozinho, precisa pouco do olho do dono. Para que isso aconteça, é fundamental que as equipes funcionem bem e que as pessoas se sintam valorizadas nos processos. Estamos construindo um laticínio que ficará pronto no próximo ano”. Antes de encerrar a conversa, Amauri aparece e completa “tenho muito orgulho da minha filha!”. Pode ter, Amauri, pode ter...

 

 

 

A Fazenda Bom Retiro está recém certificada para bem-estar animal!

Na foto Anna, gestora da fazenda e filha do Amauri, e o Fernando, veterinário.

 

 

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