A edição deste mês da revista Feed&Foof traz reportagem especial sobre as Campeãs em produtividade do IILB 11. O compilado, elaborado por Natália Ponse, aponta números das propriedades com melhores índices no Brasil e revela avanços dentro da porteira.
Um mergulho profundo nos dados e no modelo de gestão das 100 fazendas de leite mais eficientes. Assim é classificado o benchmarking “Campeãs do Leite”, que avaliou as propriedades com as melhores pontuações na 11ª edição do Índice Ideagri do Leite Brasileiro (IILB 11). O compilado foi criado por meio de uma parceria entre o MilkPoint e o Ideagri, e o objetivo é fornecer um panorama sobre a eficiência da pecuária leiteira no Brasil. Dentro dessa listagem, participam propriedades de portes variados e rebanhos com diversos perfis raciais. A publicação avaliou dados entre julho de 2020 e junho de 2021 e identificou as fazendas que no período obtiveram melhor performance em 12 indicadores-chave de eficiência na produção leiteira. Seus números foram comparados com a média e com as fazendas Top 10% do IILB (para se ter uma ideia, a produtividade média dessas 100 propriedades, por exemplo, é de 31 kg/ leite por vaca por dia).
“A produção de leite no Brasil está se modernizando e estava na hora do trabalho profissional dos produtores mais eficientes ser reconhecido”, afirma Heloise Duarte, diretora de Operações do Ideagri e responsável pela análise dos dados e o relatório final do suplemento.
“Temos o maior banco de dados de gestão do setor do leite e, com base nele, vamos ajudar os produtores a desenvolverem sua gestão baseada em informações inéditas, precisas e úteis”, acrescenta Heloise.
A avaliação envolveu propriedades de pequeno, médio e grande porte. Foram definidas três faixas em relação ao estoque médio de vacas em lactação, do menor para o maior porte: até 100 vacas em lactação, de 101 a 200 vacas em lactação e acima de 200 vacas em lactação. Com predominância das maiores, o estoque médio foi de 263 vacas em lactação por rebanho, totalizando mais de 26 mil vacas em produção, em todos os grupos destacados. A produção total diária de todas as fazendas foi de mais de 860 mil kg/leite por dia.
Outro ponto da metodologia utilizada envolve três tipos diferentes de perfil: predominância do europeu, ou seja, acima de 93,75% de sangue europeu leite (perfil 1, com 46 rebanhos); intermediário, entre 93,75% e 75% da raça (perfil 2, com 33 rebanhos) e mestiço, abaixo de 75% desta origem (perfil 3, com 21 rebanhos).
A divulgação das Campeãs do Leite foi feita em uma transmissão ao vivo, ao final de outubro, por Heloise e Marcelo Carvalho, CEO do Milkpoint. Tanto o boletim IILB número 11 quanto o suplemento Campeãs do Leite podem ser baixados gratuitamente pela plataforma (www.iilb.com.br). A seguir, confira os principais resultados.
Em 61 propriedades há apenas um tipo de bezerreiro e, em 39, há combinações de diferentes sistemas de criação. Os métodos mais utilizados foram as gaiolas suspensas (52 rebanhos), seguidas pelo tropical argentino (43 rebanhos) e pelas casinhas (25 rebanhos), além de outros tipos, com menor frequência. O uso de métodos combinados é comum em muitos dos grupos analisados.
Quanto ao sistema mais comum para as vacas em lactação, houve uma grande surpresa, de acordo com Heloise e Marcelo. O compost barn foi predominante, presente em 68% das propriedades (em 66 casos é o único sistema e em dois casos é usado em combinação com outros), seguido do Free-stall, presente em 17%, do piquetão, usado em 13% e por outros tipos e combinações, em menor volume. Na mesma propriedade pode haver rebanhos trabalhados em sistemas diferentes, como por exemplo, uma fazenda que tem um grupo de vacas em free stall e outro em compost.
A surpresa é explicada por Marcelo: “Lembro da publicação do primeiro artigo sobre compost barn no MilkPoint, em 2011. Foi um material que resultou em 200 comentários, todos querendo saber mais sobre o assunto. Ainda era o início desse método no Brasil”. Dez anos depois, pontua, o dinamismo da atividade o impressionou. “É uma tecnologia que o leite brasileiro está ajudando a disseminar”, diz.
E esse investimento é como uma locomotiva que puxa vários vagões consigo. Para que os animais deem retorno, continua Marcelo, é preciso melhorar a nutrição, o bem-estar, a genética, o manejo, a gestão de dados, entre outros.
MANEJOS ALIMENTARES. “Em relação à forma de alimentação de vacas fêmeas desmamadas, procuramos identificar os tipos usados, bem como as diferenças entre manejos na época das águas e na época das chuvas”, define Heloise.
Pelas informações compartilhadas, define, no perfil 1 praticamente não há diferença entre as épocas do ano, no que tange à forma de alimentação das vacas: “Esse resultado faz bastante sentido quando consideramos que para matrizes mais puras, de alta produção, é pouco provável que o manejo seja feito sem suplementação concentrada e de volumoso”. No caso dos perfis 2 e 3, para alguns rebanhos o pasto é mais ofertado nas águas, sendo na maioria dos casos combinado com outra suplementação. “A tendência é similar para fêmeas na recria e é possível avaliar os manejos nutricionais por perfil racial, sendo que a combinação de manejos é prevalente”, acrescenta a especialista.
Em relação ao conforto térmico dos animais, 78% dos rebanhos utilizam métodos de resfriamento de vacas em lactação, sendo o mais comum na sala de espera, usado em quase todas as situações, isoladamente ou em combinação com outros métodos, como é possível visualizar na tabela. Já com relação ao resfriamento de vacas secas, 36% dos rebanhos utilizam algum método, sendo o resfriamento na linha de cocho o mais comum, presente em 19 rebanhos, seguido de sala de refrescamento adicional em 15 rebanhos e dois rebanhos utilizam os métodos combinados.
Outro ponto avaliado no estudo é o método de observação de cios. O mais utilizado ainda é o visual, citado isoladamente em 38 rebanhos. Mas, quando considerada também a combinação com outros métodos, este é usado em 80 rebanhos. “A ‘raspadinha’ é o segundo método, usado exclusivamente em sete situações, porém, quando consideramos também a combinação com outros métodos, é usada em 33 rebanhos “O bastão é usado isoladamente em seis rebanhos e, considerando também as combinações, é citado em 27 casos”, indica Heloise.
“Este resultado me surpreendeu, pois imaginei que os métodos de observação de cio mais aplicados seriam os mais tecnológicos”, conta Heloise, acrescentando: “Temos, portanto, uma oportunidade de subirmos a barra da eficiência produtiva ao olharmos para estas propriedades com rebanhos mais profissionais. Se nesses casos temos oportunidade, imagine no restante”. Marcelo trouxe um outro ponto de vista: “Também podemos analisar que, ao mesmo tempo, 62% das fazendas já utilizam algum outro método além da observação visual, o que mostra uma adoção maior de tecnologia por parte da pecuária leiteira”.
E prova disso é a porcentagem de produtores (91%) que disse considerar a gestão de dados “muito importante”, dando a nota máxima à afirmação numa escala de 0 a 10. “Nenhum dos entrevistados atribuiu menos de 7 pontos a esse quesito”, acrescentou Heloise.
Com relação ao grau de satisfação com a pecuária leiteira, 90% dos participantes demonstraram satisfação, atribuindo notas 8, 9 e 10, sendo que 45% dos participantes escolheram a nota 10, demonstrando-se muito satisfeitos(as).
Com a profissionalização da exploração leiteira, um rígido controle da produção é fator determinante para o sucesso da atividade. A análise destes indicadores é essencial para auxiliar o produtor a planejar as rotinas de trabalho e definir quais são os caminhos necessários para alcançar uma produção de leite mais eficiente, baseando as tomadas de decisões em fontes de dados, impactando positivamente na rentabilidade do negócio.
“A evolução nem sempre é uma linha reta ou apenas momentos de alegria”, diz Marcelo, concluindo: “Mas, analisando um histórico macro, é possível perceber que estamos evoluindo; e esse avanço ocorre com maior intensidade dentro da porteira”.